a vida era melhor com estrelinhas no teto

sinto falta de ser criança, de olhar as estrelas no teto e pensar como fui parar no quarto se eu estava na sala assistindo desenho.

sempre ouvia meus amigos implorando para crescer, aquelas frases de “não vejo a hora de ser adulto” sabem? e eu nunca quis isso, nunca imaginei minha vida aos 20 e tantos anos, pra mim era surreal a ideia de crescer.

todo mundo tinha pressa de crescer e eu me questionava o motivo, era pra ser independente? o que era? o que poderia ser mais legal do que só se preocupar com escola e brincar na rua?

crescer e ser mulher com 26 anos não é nada fácil, ainda me sinto com 17 anos perdida com o que ser e o que fazer, ainda tenho medo de crescer mesmo já sendo adulta.

tomar decisões é uma questão delicada pra mim, sentir a pressão da consequência, fico paralisada com as escolhas e acabo não escolhendo nada e assim eu evito, mais uma vez, crescer.

sinto que todo mundo recebeu um manual de como crescer é legal e esqueceram de me mandar, ainda procuro essa magia de ser adulto que tantos falam.

uma das coisas que eu sinto que cresci de fato é me conhecer melhor, e entender meus sentimentos, poder ter meu canto pra chorar em paz também foi de grande ajuda.

sempre vivi numa casa com família grande e todos adultos, talvez por isso eu quisesse ser criança pra sempre, eles eram adultos chatíssimos, com vidas tediosas e comuns, um bom motivo para não querer crescer né?

agora sou adulta com a mesma mediocridade e tédios que todos os adultos que eu já conheci, e eu sempre estive certa, ser crescida é um saco.

não há ninguém para fazer minha comida, nem me dar banho, nem me por na cama, ninguém pra me abraçar e me dizer que vai passar, alguém pra contar história até eu dormir, me preocupar apenas com o que vou assistir na hora do almoço ou que penteado vou fazer pra ir à escola.

esse é um pequeno desabafo pra dizer que a vida era melhor com estrelinhas no teto.