“se uma relação está saudável, você não duvida se precisa ir embora.”
sou uma pessoa que como muitas outras tem trauma de abandono, então eu nunca sei ir embora.
todas as situações que eu precisei ser a pessoa a ir, precisei extrapolar meus limites, me ferir até não restar outra opção. o que é a pior coisa a se fazer.
aos 9 anos eu descobri o que é ser completamente abandonada, quando numa quinta a noite meu pai decidiu que não queria mais uma família, inclusive eu. até os meus 14 anos, ele nunca nem se quer me ligou, e foi ai que ele voltou como se nada tivesse acontecido. descobri que é possível abandonar alguém mesmo quando essa pessoa não faz nada.
passei toda minha vida, e em partes ainda acredito nisso, acreditando que todas as pessoas vão embora. assim que alguém novo se espreita na minha vida, automaticamente eu já prevejo sua partida. e pra minha infelicidade, eu sempre estou certa.
todas as minhas amizades ao longo da vida me deixaram, e muitas delas sem grandes motivos, o que eu acredito ser pior, é mais fácil aceitar o fim de relacionamentos quando há brigas e magoas envolvidas, mas quando isso não acontece, eu só consigo pensar que o único problema é ser eu.
isso me fez ter medo e trauma de abandono e de rejeição, e em consequência disso, ser uma pessoa que não diz “não”, que não sabe sair de situações ruins por não saber ir embora.
em um podcast chamado poesia ansiosa, a liv responde uma pergunta sobre “quando é a hora de ir embora?” e ela diz “se você não tem certeza se deveria ficar ou ir embora, isso já é a maior resposta de que está na hora de ir embora”
fiquei me perguntando, como saber se é a hora de ir embora ou se é o medo da rejeição falando mais alto?
eu sempre tenho incertezas, sempre tenho medos, meu corpo está sempre emitindo sinais de alerta pra que eu fuja o mais rápido possível, mas eu realmente não sei quando ir embora.
agora falando em outro ponto, relacionamentos românticos são um pouco diferentes. saber a hora de ir embora em uma relação de amizade é difícil, e em namoros mais ainda.
estava assistindo a short film chamado love bomb- drama on coercive control & toxic relationships, nele uma garota conhece um cara e eles tem aquela paixão instantânea, o chamado love bomb, então rapidamente o relacionamento se transforma nesse jogo de ser tóxico e despejar amor, ser tóxico e despejar mais amor.
e fiquei pensando, por que ela não vai embora? por que ela se sujeita a estar nessa relação claramente tóxica? me respondi com “ele ainda da amor pra ela. por que ela desconfiaria de que o namorado, que a ama, faria algum mal a ela?”
como ir embora nessas situações?
no podcast chamado unwaxed a anfitriã diz que tem 5 perguntas que você deve se fazer quando está num relacionamento que precisa decidir se fica ou não.
se alguém te disser que você se parece muito com ele, isso seria um elogio pra você?
você está totalmente completo ou só menos sozinho?
você pode ser você sem se envergonhar ou sente que precisa se podar por ele?
você está apaixonada por quem ele é como um todo ou você está apaixonada só pelo lado bom e pela romantização do potencial que você viu?
você ia gostar se sua futura filha namorasse alguém igual?
todas essas perguntas me atingiram como um soco no estômago, mas são necessárias para se fazer quando ir embora. talvez se eu tivesse ouvido antes não teria passado por tantas coisas.
pra mim ir embora era um ato covarde, algo que pessoas ruins faziam para me magoar, para me lembrar que eu era insuficiente.
mas, penso agora que talvez ir embora tenha sido um ato de amor próprio.
Isso me fez refletir muito sobre como lidei com as atitudes de outras pessoas, e como deixei de lado o que eu sentia para agradar alguém que sequer se importava o suficiente para ficar. Realmente é um soco no estômago, mas um soco necessário para a evolução
a foto de past lives já acabou comigo