“ele se lembra dos anos passados como se olhasse por uma vidraça empoeirada. o passado era algo que ele podia ver, mas não tocar. e tudo que via era turvo e indistinto.- in the mood for love”
o amor acontece naturalmente, te pegando de surpresa numa quarta-feira qualquer, voltando pra casa de um cansado. às vezes ele acontece quando menos o queremos, quando fugimos desesperadamente dele.
o amor é uma força indistinta que não se faz presente quando tentamos nos agarrar nela. suas peculiaridades e aleatoriedade que fazem da vida ter um pouco mais de graça.
em in the mood of love, acompanhamos a sra chan e o jornalista sr chow, eles se mudam para o mesmo prédio e se tornam vizinhos. por ventura cruel do destino acabam por compartilhar uma experiência mútua fazendo com que eles passem a se conectar. por causa de mágoas eles tentam se desvincular do amor e abraçar suas feridas e solidão. o que eles não contavam era que o amor tem seus propósitos.
“eu não pensei que você se apaixonaria por mim.
eu também não.
eu só queria entender como começou. agora eu sei. os sentimentos podem surgir assim.”
tentamos achar respostas pra coisas que são só a vida acontecendo. não há resposta certa para assuntos do coração. não se pode ter certezas quando se responde com sentimento.
é pesado se viver assombrado pelo passado, dos “e se”, da necessidade de resgatar o que não te pertence mais. tudo que já passou não é mais seu.
chan e chow tentam voltar ao ponto de início, numa tentativa miserável de se reencontrar. mas não acontece. como crueldade, a vida também falha em acontecer. há quem dê sorte e ganha segundas chances, mas para o resto de nós azarentos as coisas só acontecem uma vez. por isso, se der, aproveite qualquer experiência enquanto ainda é tempo de sentir.
o que mais me marcou em toda a incrível experiência que esse filme traz, é saber que nem tudo é feito para durar e que as pessoas se vão com o tempo, mas o seu amor por ela mantém pra sempre.
como já disse a celine uma vez em before sunset: sinto que não esqueço as pessoas com as quais estive… porque cada pessoa tem suas qualidades específicas. não dá para substituir ninguém. o que foi perdido está perdido.
tudo um dia se dá por acabar, e com o amor não é diferente.
os quase algo te doem mais do que a cruel realidade, o pesar das possibilidades é o que assombra. lidar com o concreto é mais fácil. as coisas são o que são. mas, as coisas que poderiam ter sido. essas que te estraçalham inteira.
a cena em que a chan e chow ensaiam a despedida a faz desesperar em prantos. inclusive ela chora mais nessa cena do que quando ela confronta uma realidade ainda pior. a dor de perder algo que ainda nem foi seu, é totalmente dilacerante.
“eu diria que te amo, mas dizer isso em voz alta é difícil. então eu não vou dizer nada. e também não vou ficar por muito tempo.”
as vezes os sentimentos mais verdadeiros acontecem nos silêncios.
o que se faz com o passado? o que se fazer com todo esse amor acabado?
em uma cena chow está conversando no bar com um amigo e pergunta:
- nos velhos tempos se alguém tivesse um segredo que não quisesse compartilhar, sabe o que faziam?
- não tenho a menor ideia.
- subiam uma montanha e achavam uma árvore, achavam um buraco e sussurravam o segredo dentro do buraco. depois tapavam com o barro. e deixavam o segredo guardado para sempre
e no fim é o que fazemos com os amores que não dão certo. o sussurramos em buracos no nosso coração e tapamos com memórias.
o amor acontece no cotidiano e no mesmo o termina.
e a vida é assim. tudo só acontece… até que se acaba.
que pedrada
o seu texto foi tão trágico quanto in the mood for love. forte e real. obrigada por escrever. o amor vem, fica e depois se vai, e cabe a nós, ao final, lidar com a sua partida.