em algum momento da minha trajetória eu me deixei em algum canto, em algum tempo desconhecido, eu tento me procurar, mas não sei onde eu me deixei.
acabo ficando em solidão. solidão essa de mim, de quem fui e de quem sou. me perdi em algum lugar e não sei onde posso me encontrar.
deixei de lado sonhos e esperanças– onde foi parar?– empilhei em um armário velho, fotografias antigas, guardei em gavetas minhas memórias e escondi em um sótão minha versão esperançosa– acho que ela sumiu de lá– e nessa casa me tranquei. depois, fugi.
assisti ao filme a lista da minha vida e esse simplesmente tocou em uma ferida antiga.
a personagem com o mesmo nome que o meu– grande ironia do destino– também estava na mesma situação, perdida em algum lugar.
aos 13 anos ela fez uma lista de sonhos que nunca cumpriu, me vi exatamente ali.
assim como a alex, eu também havia perdido isso. também deixei sonhos pra trás para viver num conforto que agora não é tão confortável assim.
sua jornada me fez ter esperança de me encontrar de alguma forma, mas eu infelizmente não fiz uma lista quando criança, não deixei nenhum mapa de volta pra mim.
me pergunto se, em algum lugar, existe um rastro de quem eu fui.
se, ao abrir uma gaveta antiga, posso encontrar um bilhete esquecido, um vestígio qualquer do que sonhei um dia.
talvez eu tenha deixado pistas sem perceber?
talvez eu seja uma casa. uma casa cheia de portas fechadas, de cômodos empoeirados onde já não entro há anos.
a cada mudança, fui deixando partes de mim para trás, como móveis pesados demais para carregar.
e agora estou aqui, dentro de um espaço grande e vazio, onde as vozes antigas ecoam, mas não consigo entender o que dizem.
“we will never hear the songs they sing
or read the books they write
but if only for a second
we can feel what they have felt”
mas, ao contrário da alex, eu não fiz uma lista. não deixei um mapa. não deixei o caminho.
e agora, o que fazer para me encontrar?
como seguir em frente quando a rota está apagada, quando os sinais se perderam no tempo?
talvez seja hora de construir o mapa que não tenho.
será necessário olhar para trás, revirar gavetas, mas também abrir portas para o que ainda está por vir. talvez eu precise começar de novo, mesmo sem um plano. ou talvez a solução seja começar com o que tenho.
eu sou uma dessas pessoas que deixam algo para trás sem ninguém perceber. meus sonhos esquecidos ficaram guardados em gavetas que nunca mais serão abertas.
as versões de mim que perdi ainda estão por aí, esperando para serem encontradas, mas agora sei que posso procurá-las, não como uma busca pela perfeição, mas como uma aceitação de que somos feitos de pedaços desconexos, mas genuínos.
talvez agora eu não tenha uma lista feita pela lele de 13 anos, mas posso tentar fazer uma bem agora. e desafio vocês a fazer o mesmo.
nunca é tarde demais para se encontrar, nem tarde demais para deixar um guia para casa.
“deixei sonhos pra trás para viver num conforto que agora não é tão confortável assim.” AI
caramba isso me tocou muito