tem gente que acredita que o amor morre em gritos. eu acredito que ele morre no silêncio.
morre quando ninguém diz o que sente. quando se espera que o outro adivinhe. quando a vontade de se proteger fala mais alto do que a coragem de se entregar.
o amor morre no que não é dito. o amor morre nos silêncios ensurdecedores.
e normal people me ensinou isso.
me identifiquei de cara com a marianne. silenciosa, profunda demais, cheia de coisas guardadas, acostumada a amar na ausência – do outro, de si mesma, do afeto. depois, fui me identificando com o connell. presa dentro da própria cabeça, com medo de incomodar, de não ser compreendida, de dizer algo errado e estragar tudo. ser os dois é carregar o caos e o silêncio dentro de si. o que pode ser um pouco enlouquecedor.
é impossível assistir ou ler normal people e não se perguntar: quantas histórias de amor acabam não por falta de sentimento, mas por falta de palavras?
quantos amores como o de marianne e connell existem por aí? amores intensos e cheios de conexão, mas que morrem lentamente afogados em silêncios.
em um dos diálogos mais doloridos da série, connell diz:
“i’ll go. i’ll go if you want. i’ll stay if you want.”
(eu vou. eu vou se você quiser. eu fico se você quiser.)
e marianne responde:
“i want you to stay. but i don’t know how to ask.”
(eu quero que você fique. mas eu não sei como pedir.)
às vezes, a gente quer tanto que alguém fique, mas não sabe como pedir. fica esperando que o outro adivinhe. fica confortável no silêncio, como se amar fosse suficiente, como se só sentir bastasse. só que não basta.
em outro trecho do livro, connell pensa:
“he feels like he’s been shouting at her across a great distance, but the sound doesn’t carry.”
(ele sente como se estivesse gritando para ela de uma grande distância, mas o som não alcançasse.)
porque o amor precisa de palavras. precisa de comunicação. e quando ela falha, o amor se desgasta. vai se desfazendo nos intervalos do que não foi dito. e o silêncio, esse vilão tão sutil, vai corroendo tudo por dentro.
marianne e connell, mesmo com tanto silêncio entre os dois, ainda assim compartilham algo bonito. mas o bonito, às vezes, também dói.
“life offers up these moments of joy despite everything.”
(a vida oferece esses momentos de alegria, apesar de tudo.) – connell
ainda assim, o relacionamento deles não se sustenta. porque entre eles sempre existiu uma barreira invisível: a falta de comunicação. e nenhuma conexão sobrevive se não for alimentada por palavras sinceras.
talvez, se marianne tivesse entendido melhor os silêncios do connell, quando ela diz que acreditou que eles tivessem terminado justamente porque ele não disse nada. talvez, se connell tivesse dito – gritado – que queria a marianne, eles ainda estariam juntos.
a cena que acontece no último episódio de normal people, quando marianne e connell finalmente conseguem se comunicar com mais clareza, só que é tarde demais pra eles. é uma das mais bonitas e devastadoras da série.
eles estão sentados no chão do quarto dela, o connell acaba de receber a proposta para estudar em nova york, e marianne, diferente das outras vezes, não tenta segurá-lo. não porque ela não o ama, mas justamente porque ama. é uma das conversas mais maduras e doloridas da série. finalmente eles dizem tudo que antes foi guardado em silêncios:
“você sabe que eu te amo. e não estou dizendo isso da boca pra fora.”
“eu também te amo.”
“você sabe que eu iria. eu iria com você.”
“eu sei.”
é um momento de amor pleno, mas também de despedida. eles não terminam brigados, não há mágoa explícita. há afeto, compreensão e um tipo de amor que entende quando é hora de deixar o outro ir. e é isso que torna essa cena tão impactante.
eles finalmente falam o que sentem. só que o tempo que passou cheio de mal-entendidos, não volta. e isso mostra como às vezes o amor não morre por falta de sentimento.
essa cena é um sussurro de tudo que eles não conseguiram dizer antes. uma entrega tardia, mas bonita. uma tradução clara de dois corações que, apesar de tudo, finalmente se entendem — justo quando é hora de seguir em frente.
nem todo mundo precisa acabar como eles, nem tudo está perdido ainda.
sempre preferi parecer idiota pros outros e falar o que eu sinto do que ser uma completa idiota pra mim e me sufocar em palavras.
talvez o amor precise de mais de coragem pra dizer em voz alta: “eu quero você aqui.”
quantas histórias de amor não teriam terminado se alguém tivesse conseguido dizer isso a tempo?
é ai que eu me pergunto: até onde o silêncio destrói o amor?
Seu texto me fez pensar em como me sufoco com palavras. Como muitas vezes eu preferi não dizer o que realmente pensava com medo de causar um conflito ainda maior. Por conta de todas as feridas não expostas acabei ficando ressentido e quando isso acontece eu me isolo em um casulo de indiferença. Eu respondo seco, me afasto, quase um desconhecido, tudo isso como forma de me proteger de mais danos e até mesmo para “dar o troco” na outra pessoa que me machucou. É engraçado, porque eu sempre preguei que é melhor falar do que morrer, mas e quando você se desgasta ao comunicar? Diz a mesma coisa de novo e a única coisa que muda é você porque não disse tudo? Aprendi que se eu for machucado e sentir raiva, preciso expressar isso com todas as letras ao invés de guardar para mim e ser tarde demais depois porque criei alguma justificativa para eu me afastar.
a falta de comunicação não destrói apenas relacionamentos amorosos, mas também famíliares e sociais. Caso alguém nao saiba o que você sente, acaba te tratando da forma que ela acha adequado, mas que pra você talvez nao seja. Guardar tudo pra si doi, mas falar pros outros seus sentimentos dói mais ainda.
Texto lindo!! Ameiii e me identifiquei, sou nova na plataforma e já adoro seus textos ❤️🙃